Porciúncula / RJ

Aleitamento Materno

Tendo em vista a importância do aleitamento natural para a saúde geral e desenvolvimento do lactente, consideramos este tema de grande relevância, diretamente para as mães e, de maneira indireta, para todos os familiares. Desta forma, abordamos de maneira resumida e compreensível aos pais o aleitamento natural e suas bases fisiológicas e emocionais.

Parabéns mamãe!

É possível que tudo tenha começado após um longo planejamento ou, quem sabe, por um "descuido". Mas os meses se passaram e, provavelmente, as expectativas cresceram junto com a barriga. Com o nascimento do bebê os pais passam a experimentar sentimentos diversos. A alegria sobressai neste universo de emoções. A família está ali, os amigos vão chegando, os vizinhos querem ver... E a mamãe, ainda tentando se recuperar do parto, procura retribuir todo este carinho. É a magia da vida que se inicia neste ser pequenino.

O seio materno e suas mudanças.

As mudanças que ocorrem no seio materno têm início bem antes do nascimento do bebê. O número de glândulas mamárias aumenta pela ação dos hormônios femininos (estrogênio e progesterona), substituindo parcialmente o tecido gorduroso (células adiposas) presente nas mamas. No período final da gestação a futura mamãe já pode experimentar a saída de um líquido amarelado e denso. Logo após o nascimento, o bebê será alimentado com este mesmo líquido, denominado de colostro. Nele estão presentes muitos anticorpos (imunoglobulinas), responsáveis pelo fortalecimento do sistema imunológico do bebê. É a primeira vacina do seu bebê. No decorrer dos primeiros dias, também pela ação de um hormônio (prolactina) produzido pela glândula pituitária (ou hipófise), o processo de produção evolui, dando lugar ao aparecimento do leite. Neste estágio o leite ainda não está completamente "maduro", o que deverá ocorrer por volta da segunda semana. É necessário destacar aqui a relação que existe entre a produção de leite e a hipófise. Esta glândula está localizada no cérebro e sua atividade está muito ligada ao hipotálamo, uma região específica do cérebro relacionada com as nossas emoções. Isto explica a razão pela qual o estado emocional materno está intimamente relacionada com a produção do leite, sendo capaz de determinar sua abundância ou, nos momentos de estresse, sua escassez.

A mulher assume um novo papel.

Com o nascimento do filho ocorre uma mudança significativa na estrutura familiar. Naturalmente a mulher perde sua individualidade e assume uma nova identidade, passando a ser vista como a "mãe do (a)." Além disso, acumula também a função de nutriz, ou seja, provedora do sustento do seu filho. Intimamente as suas dúvidas vão ganhando espaço: "Tenho quantidade suficiente de leite para sustentar meu bebê?"; "Por que meu bebê está chorando?"; "Será que eu...?"; "Como eu devo...?" Observe que as dúvidas usualmente se referem ao seu desempenho como mãe. Portanto, não é difícil compreender o peso deste novo papel na vida da mulher. Isto reforça a grande necessidade do apoio da família, bem como do acompanhamento profissional apropriado. Na ausência destes pilares haverá pouca chance de sucesso na continuidade do aleitamento natural.

O papel da família.

Como dissemos, o apoio da família é essencial ao sucesso do aleitamento natural. Contudo, é necessário ressaltar aqui que apoio não significa "ocupar o lugar" da mãe, determinando-lhe todos os passos; o aprendizado vem com a prática. A imposição de crenças, nem sempre concordantes com os conhecimentos atuais, contribui para aumentar a insegurança materna, pois determina o conflito das "verdades" leigas e científicas. Assim, o apoio ao qual nos referimos significa estar sempre presente e disponível quando necessário, demonstrando-lhe afeto e compreensão.

O papel do pediatra.

O pediatra, antes de tudo, tem o dever de zelar pelo bem-estar do bebê e da mãe, corrigindo todos os problemas que possam interferir na relação mãe-filho. É o pediatra que vai ensinar a técnica correta da amamentação e, com o acompanhamento, dirimir todas as dúvidas da família. Em benefício da saúde materno-infantil, deve atuar sempre promovendo o aleitamento natural exclusivo. Contudo, na impossibilidade deste, o pediatra deve orientar a solução mais apropriada, considerando as condições de cada família.

Aprendendo a amamentar.

Apesar de ser uma atitude instintiva para os bebês, o mesmo não pode ser dito para aquelas mamães de "primeira viagem". Observamos que todas necessitam receber as orientações sobre a técnica correta, evitando que as dificuldades iniciais possam comprometer o sucesso da amamentação natural. Vejamos o que é importante na hora de amamentar:

a) Ambiente adequado

Procure, sempre que possível, amamentar em um local silencioso e sem grande luminosidade, evitando que outros estímulos desviem a atenção do seu bebê;

b) Conforto

Amamentar deve ser um ato prazeroso para mãe e filho. Portanto, ambos devem estar em uma posição confortável, evitando que a tensão e as dores musculares comprometam a amamentação. Lembre-se de que é o bebê que deve ser levado ao peito e não o contrário;

c) Posicionamento correto

O bebê deve ser colocado com a barriguinha de frente para a barriga da mãe, permitindo que sua face também esteja de frente para o seio; sua cabeça deve estar apoiada sobre a região mediana do braço;

d) "Pega" adequada

Utilizamos esta palavra para definir como o bebê deve abocanhar corretamente o seio para que a sucção do leite seja eficaz. Saiba que uma "pega" incorreta, como a sucção do bico do peito, acarretará mais fissuras e, consequentemente, dor durante as mamadas, além de não satisfazer o bebê, pois ele não consegue extrair satisfatoriamente o leite;

e) Troca de olhares

Muitas mães costumam perguntar o quanto seus bebês enxergam. Respondo-lhes que, ao nascer, cerca de 20 centímetros de distância. Isso lhes permite visualizar o rosto materno quando estão no colo amamentando. Portanto, procure estar sempre trocando olhares com seu bebê.

As cinco regras do leite.

Todas as mamães costumam ouvir de vovós, amigas e vizinhas, muitas "receitas infalíveis" para se ter leite em abundância. No entanto, são muitas vezes destituídas de eficácia ou, em alguns casos, prejudiciais à saúde do lactente. Portanto, vejamos abaixo aquilo que realmente poderá garantir o sucesso da amamentação:

1) Esvaziamento completo do peito

Saiba que existe um controle "inteligente" da produção de leite. Portanto, a produção aumenta na medida da necessidade do bebê. Assim, quando se mama pouco, não há razão para se produzir muito. Lembre-se que, embora possa mamar nos dois peitos, só se deve levar o bebê ao outro seio após o esvaziamento completo do primeiro. No entanto, a maioria dos bebês fica satisfeita com o esvaziamento completo de apenas um seio;

2) Ingestão apropriada de líquidos

Não é difícil entender a importância de uma boa hidratação materna. Afinal, sendo um produto líquido, como poderia o organismo materno produzi-lo sem uma reposição satisfatória de suas reservas? Como dissemos, o controle é "inteligente". Por esta razão, se não houver "entrada" (de água), o organismo materno vai restringir a "saída" (de leite);

3) Descanso diurno

Existe somente uma maneira de recuperar o sono das noites perdidas: adaptando-se ao ciclo de sono-vigília do bebê. Sempre que possível, durma uma ou duas horas durante o dia. Caso você não consiga dormir, tente ao menos deitar e relaxar. Lembre-se que os primeiros meses serão realmente cansativos;

4) Alimentação adequada

Em tempos passados as mães eram orientadas a "comer por dois". Atualmente sabemos que não há razão para exageros. Contudo, a produção de leite gera um gasto extra para o organismo materno. Assim sendo, é necessário fornecer nutrientes apropriados, o que se conseguirá facilmente através do consumo diário de frutas, legumes, hortaliças, proteínas animais (carnes, ovos, leite e derivados) e cereais (especialmente os integrais);

5) Controle do estresse pessoal

As situações às quais estamos nos referindo aqui são as dúvidas e preocupações maternas. Sabemos o quanto isto pode afetar as mamães e, assim, comprometer a produção adequada de leite. Portanto, procure sempre esclarecer suas dúvidas com seu pediatra. Lembre-se que todo tipo de estresse pode ser prejudicial.

O que há de novo sobre a alimentação materna.

Tendo em vista ser uma preocupação frequente a relação de alimentos proibidos ou permitidos para as nutrizes, abordarei aqui algumas considerações atuais sobre este tema. Em primeiro lugar, gostaria de frisar que, como dissemos acima, as mamães devem sempre seguir uma alimentação saudável, ou seja, equilibrada. Há, contudo, alguns alimentos "saudáveis" que, à luz dos atuais conhecimentos, parecem contribuir para uma maior tendência ao desenvolvimento de alergias alimentares nos lactentes. Saiba que de acordo com o último consenso (2007) sobre o papel da alimentação materna na alergia alimentar do bebê, ficou definido que somente poucos alimentos (frutos do mar e amêndoas) poderiam apresentar algum problema. O leite, que costuma ser considerado um vilão, recebeu sinal verde para ser consumido pela mãe que está amamentando. Portando, não siga "dietas" sem fundamentos científicos, apenas porque "alguém disse...". Acredito, no entanto, que esta restrição não implicaria grande sacrifício para as mães, pois não são alimentos indispensáveis ou de consumo habitual.

E depois de mamar...

Após mamar o bebê deverá ser colocado verticalmente no colo durante alguns minutos para facilitar a eructação, ou seja, a eliminação dos gases que porventura tenham sido deglutidos durante a mamada. Caso não ocorra de imediato, retorne o bebê para o colo. Aguarde um pouco e, novamente, coloque-o na vertical. Contudo, saiba que nem sempre o bebê irá arrotar. Saciado, o bebê deverá seguir para uma das duas situações:

I- Hora de dormir

Os lactentes mais jovens já estão sonolentos ao final da mamada. Assim, devem ser colocados no berço para descansar. Atualmente a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que os bebês sejam colocados para dormir em decúbito dorsal (barriga para cima), exceto quando houver alguma contraindicação. A segunda posição aceita é em decúbito lateral direito (lado direito). Há, portanto, um consenso entre a comunidade científica internacional desaconselhando o decúbito lateral esquerdo e ventral (respectivamente lado esquerdo e barriga para baixo). Isto se deve a uma condição trágica conhecida como Síndrome da Morte Súbita do Bebê (do inglês: SIDS = Sudden Infant Death Syndrome), felizmente rara.

II- Hora de brincar

Os lactentes maiores usualmente permanecem acordados após as mamadas. Portanto, é necessário que os pais aproveitem este momento para interagir com seus filhos. Lembre-se que quanto mais estímulos os lactentes recebem, mais completo é o seu desenvolvimento. Além disto, este contato promove o estreitamento dos laços afetivos entre os pais e o bebê.